quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Guapuruvu


E com as mão a cabeça
Pasmo e como quem se assusta
Diante a tão grandiosa beleza
Ouve-se o bramido:
"Tá chovendo flores velho!
Tá chovendo flores!"

E o céu se fecha
e a agonia transborda
O sorriso aparente
dourado escorre
pelos pêlos do rapaz

E os outros em suas risadas
Oblíquas e desvainecidas
envaidecidas ensolaradas
Batem seu dedos contra peles de aço

Rasgam suas latas, garrafas,
papeis de seda e mato verde,
velas!
Põem em si coroas de espinho
e esperam,
Esperam os elicópteros e as nótícias
Dos que caem no Lago Paranoá

domingo, 25 de outubro de 2009

Em um recanto qualquer
Emerge um canto com tom de ré
E um encanto, sem cabeça nem pé
Eterniza um canto de parede até.

Um encanto de mulher
Elege o falo, despreza a fé
Uma qualquer, outra qualquer
Eterno canto de pau em pé.

Gilson e Kalil Alencar

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Incômodo descontínuo

Desliza em paz
o visco
Da língua do calango.

Calango cômico,
Calango Incômodo
Palavra Mole.
Pêndulo sem nome
Balança.

Meia-coisa que fede,
Anti-força que morre.
Cera mística
que desce morna
Lodo negro, que sem pressa
Como voz que anuncia sono,
Canta.

Som sem rosto.
Lama lenta
como a baba vil
E vívida,
que flui
da boca de seu dono.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

De onde se erguem as casas.

MATER IA LIZ ÁLAS

Anteparo:
(O dialógico não é mesmo corrente
nesses tempos, modernos.)

Corredor: somos, sermos.

Talvez alguns sejam realmente
afeitos ao melodrama,
banal, troca-tapas, resumido espectro.


[O profundíssimo nunca esteve
mesmo ligado ao ciclo
da resignação]


As mesmas dualidades tolas,
pouquíssimo questionadoras.
Permanecem, invariavelmente.

Lavabo:
(o pequeno, o separado
tempo de agora.
os vintes
é que acentuam) Á acentuam-na.

Visitas: AMBIENTE NÍTIDO, LIMPO, ORGANIZADAMENTE SOCIAL.
nos trinques...

Nó feito, pregador de esferas:

As projeções ideologicamente moldadas
X
e as reais condutas,
dutos de humanos poligamos de idéias.

poliedros e artigos indefinidos - seu chão.

Somos uns, umas, Mesmas
formas seccionadas.

Uma parte aqui,
uma outra aqui e ali,
e ainda outra ali e aqui
ao mesmo tempo.

É uma pena que símbolos sejam
tão renegados. Embora realmente
sejamos todos semi-óticos.

(uns mais óticos do que cênicos, bem verdade)

Vivamos a era da imagem!
reverenciemos
tudo quanto
é
tão
passageiro
(como nossos colegas,
os inocentes Futuristas)

A cena: uma piscina, sua água amarelo-fluorescente.
GRADES dividindo raias que se podem ver
umas as outras, sem poder atravessá-las.
sem teto ou fundo.
Um em escuridão
e outro em luminosidades
Profundos
vívissimos
lindos e perspectivamente
invertidos.


|Esse|
é hoje meu mal
investimento.
Des mater ia li zala.

CORTE DO CORDÃO UMBILICAL

o Aumento
da visão além da sala.



Alone, but refined.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cats - Luan Caeté de Araújo

Observação preliminar: Ilustres companheiros, após muito me entreter com as postagens do blog, resolvi colocar algo. Aqui está uma coisinha que eu fiz hoje, um continho humilde, com pretensões cômicas, cuspido após injenções vontrierianas de adrenalina. Comentem!

Cats



Novamente Júlio tragava os vapores memoriais da vida insone. O remexer-se vazio, o fastio dos panos inquietos da cama vestida, e o ardil da invenção onírica desperta. Paciência, não estás a ler uma manual de psicologia do sono, pelo contrário, a "invenção onírica desperta" é um artifício vulgar dos aspirantes ao dormir. Após horas de nauseantes tentativas, que ganham esse nome catecrético por não haver melhor substituto (pois dormir não é algo que se tenta), o sujeito começa a associar elementos oníricos que lhe são familiares e constrói anarrativas até se dar conta de que aquilo não é um sonho. Júlio, entretanto, apenas revivia tais noites, numa que o mantinha em vigília por outros meios. Era a semana do amor felino e o nosso herói, desinformado do evento, intentava desesperado um desmaio contra o travesseiro, enquanto os animais se refestelavam numa comunhão extática, que já contava seu centésimo minuto de ápice.

Tal culto lancinante, confundia o grande Júlio, que não sabia se praguejava a Ártemis ou a Baco, decidindo por fim invocar Marte, ao tomar um cabo de vassoura e com a serenidade dum verdugo atravessar o quintal em busca dos querelantes. Antes, porém, Delfos deveria dar-lhe a benção:

-Amor, vou estraçalhar a cabeça desses gatos.

-Vire-se e durma, Júlio.

Ao tergiversar, a silhueta de sua mulher imanava a perfeição espontânea daqueles que de tão tomados pela fadiga, parecem no sono se acoitar lascivamente: sua mão caia-lhe pelos quadris, suas pernas se dobravam em triângulos sem base e seu rosto, banhado da fealdade própria das coisas desacordadas, emitia soluços de um alívio repousante. Como poderia creditá-la, se com tanta gulodice ela se fartava do que ele implorava? Tomou-se, então, a si por oráculo e vaticinou, para as costas da adormecida:

-Vou matar os bichanos.

Contenha sua valoração descabida, se pensas tu que o nosso Odisseu é demasiado cruel em suas intenções. Tentou ele espantar a alimária embriagada da frente de seus portões por diversas vezes: jogou água, meteu-lhes a mão e até mesmo esperneou estridentemente, como se tentasse tomar parte na orgia, defronte os representantes da raça maligna. Eles, todavia, amontoavam-se em tal número (e em tal êxtase) em cima dum muro, que se fazia impossível a um homem só assustá-los todos. Júlio, nosso césar, abriu a porta de sua sala, após o quintal, que o permitia ver, através do portão vazado, a celebração felina e pôs-se a pensar com a vassoura na mão, qual cetro real. A manhã já imiscuía tons claros no azul noturno do firmamento e suas esperanças de sono já eram depositadas no próximo dia, pensando, como os insones normalmente o fazem, que com uma noite em vigília acumulada, dormiria na próxima como uma criança.

O espírito de vendeta, no entanto, fincava suas entranhas e seus olhos assustados, as poucas roupas amassadas, mais o respirar sibilante, pintavam um quadro assustador para esse quase-Tito-de-Shakespeare. Julius Andronicus, o cruel vingador, é agora seu nome! Traçou, pelas exíguas vielas criativas de seu rude tutano, um plano (falível, porém impiedoso): encheria um prato com leite, pois é disso que os gatos gostam, mais uma generosa dose de um veneno de ratos que tinha na dispensa. Ora, cuspiu nosso deus num arroubo filosófico, animais de rua consomem qualquer coisa, não resistirão o leite. Já imaginava uma miríade de defuntos felinos em torno do prato. Encheu, então, o prato, dosou o veneno, e foi até o muro-telhado, lócus que permanecia em festa, com o fundo sonoro dos miados-gemidos que inviabilizaram a noite de tal grande homem. Lá colocou, regozijante, sua armadilha, a que os gatos não prestaram assunto. Voltou à sua sala e, da janela, ficou a observar se algum dos gatos se tentava pelo prato. De tanto esperar, acabou por dormir no sofá.


Logo foi acordado pela mulher, que o lembrava das obrigações laborais. Despertou e, sem desfrutar de desjejum algum, desesperado desabriu a porta e foi verificar se caíra algum gato em seu artifício. Caminhou para o portão, abriu-o. Atravessou a calçada, em frente à sua morada, e chegou ao muro-telhado que servira de salão para os bichanos na noite anterior. Avistou que o prato que ali colocara estava vazio e, a seu lado, havia um pacote de panos. Não havia gato algum tombado, então resolveu remexer aquele pacote que não estava por lá da última vez. Percebeu que era gente: uma criança de pele ocre, cabelos lisos desgranhados e queimados de sol, com a indumentária encardida e um cobertor caído ao lado. Parecia desacordada. Júlio a tocou e percebeu que os panos não estancaram o frio, pois a criança estava gelada. Assustado, pegou o prato e voltou pra casa.

Luan Caeté de Araújo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

garimpando destinos

Sim, sou como ele e como vários, eu, ele, nós, vocês, todos. Uma humanidade inteira numa ínfima faísca de luz que nasce no tempo. Assim como se Deus quisesse algo, eis Adão surgindo e comendo com Eva. Eis o desejo que escapa por entre os dedos de Deus só para ser pego logo ali, como se Deus tivesse mãos.
O universo é o meu eu ao avesso. Tantos universos! Incontáveis eus passageiros, boiando na essência do cosmos! Oh, matéria inapreensível, energia inabalavelmente misteriosa!
Quem disse que não há destino, quem falou? Que destino ingrato esse do que não tem destino, se movendo ao léu em meio a uma indefinição avassaladora! Ah, abismo de escuros, explosões dolorosas de luz, ah, incoerências!
Mas no meu palco eis o enredo já escrito, na antesala entre a realidade e o teatro, no interim entre o tempo e a imobilidade. Eis o intervalo enigmático onde deita a vontade de Deus.


in.: os cadernos da chapada
T.Trotamundus

A Matéria

Numa terça-feira ensolarada sob o céu aberto e incoerente das idéias fora de hora e questão, decidi que era um verdadeiro gênio do bilhar. Sem entender a razão pela qual meu espírito fora tomado por esse devaneio travestido de certeza, peguei meu velho casaco de lã e rumei para o botequim mais próximo na ambição de materializar o sentimento que explodia em meu estômago e se espalhava por minhas entranhas como a merda que vem e não pode ser evitada.

A mesa estava lá. Assim como uma decadente platéia que naturalmente fazia parte do cenário de glória que montei em meus ambiciosos pensamentos. Imaginei como comparação que, se Crusoé realizasse uma nova decoração com incríveis trançados de palha para sua cabana, mesmo se considerarmos o feito como um real, porém fugaz, instante de vitória sobre o tédio, sua obra nada valeria se não fosse chancelada pelo sorriso selvagem e talvez constrangido de Sexta-feira. De que serve o êxito, pensei, sem que sejamos instantaneamente aprovados por outros, mesmo que estes “outros” sejam uma massa sem forma ou meia dúzia de bêbados contendo com a maravilhosa dose matinal o indisfarçável tremor das mãos.

Segui com passos decididos em direção ao balcão, pedi três fichas e desafiei em voz firme os presentes a duelarem numa honrada partida de bilhar. O chamado foi recebido num misto de preguiça e desinteresse por parte dos colegas de recinto. Após alguns minutos de silêncio e algumas trocas de olhares entre os freqüentadores que eu supunha habituais, um senhor, com a aparência cansada e pouco amistosa, sacou o taco preferido pendurado no suporte da parede, catou um pequeno resto de giz azul que descansava na borda da mesa e pôs-se a passá-lo no taco, deslizou o objeto cuidadosamente pelos lugares onde a mão passaria e como de costume, na ponta, detalhe técnico cuja funcionalidade jamais entendi.

A partida começou. Meu adversário, felizmente, deu a saída sem encaçapar nenhuma bola. Chegada minha vez, como um deus dos esportes boêmios, matei bola após bola em jogadas perfeitas para espanto de minha antes modorrenta platéia, que então passara a observar cada lance nos mínimos detalhes e a tecer comentários oscilantes entre o ceticismo e o mais exagerado entusiasmo. O próprio dono do bar, talvez o mais antipático dos presentes, arregalava os olhos e balançava a cabeça confusa e simultaneamente num tom de aprovação e de quem não acredita no que vê, a cada lance genial que partia de minhas mãos.

Como vento, a notícia se espalhou. Já durante a tarde, os melhores sinuqueiros da região foram até o bar, na tentativa de vencer “o homem que não perdia nunca” e como era de se esperar, foram humilhados como moscas. Minhas jogadas pareciam ser alimentadas pela confiança crescente que ardia em mim e pelo espanto quase adulador da platéia, que assim como os desafiantes, não parava de surgir em maior número. Passei, naquele momento, a não conseguir errar. Em certos instantes desejei o erro com toda a sinceridade, mas este simplesmente abandonara-me. Quando a noite chegou, não havia em meu corpo o menor sinal de cansaço.

No meio da segunda partida de uma melhor de três, com um sujeito que mal me lembro das feições, um fato absurdo subitamente acontece. De início, não percebi o que estava se passando, visto que, com os pés firmemente apoiados, me preparava para mais um lance. Realizada a jogada, tentei mover o pé esquerdo, mas este simplesmente se recusou. Tinha sido dragado pelo chão.

Impossível descrever o gélido arrepio que percorreu meu corpo ao ver meu outro pé, fundir-se, assim como o anterior, à superfície do bar. De maneira completamente inexplicável e indolor, a cerâmica, o concreto, o couro de meu sapato, meus ossos e a carne do meu pé passaram a integrar uma só massa sem forma, sem razão.

Não pretendo me estender na narração das óbvias conseqüências que esse insólito acontecimento teve em minha vida, nem na repercussão instantânea nos mais variados meios de comunicação. Pessoas de todas as partes queriam ver o homem unido ao chão do bar. Perguntas estúpidas eram feitas por jornalistas de todas as partes, entre elas, a mais estapafúrdia era repetida à exaustão por jovens engravatados de microfone em riste: “o que você fará de agora em diante?” Era mais que óbvio que não faria simplesmente nada. Humildemente esperaria a morte.

O dono do bar e a comunidade concordaram em garantir minha alimentação e a me ajudar no que diz respeito à higiene e à devida e digna execução das naturais necessidades do corpo humano. A posição em que me encontrava, dificultava sobremaneira um sono tranqüilo, dormia em pé, com o tronco escorado na mesa.

Viver tornara-se insuportável, sobretudo quando o bar era fechado, quando as luzes eram apagadas e a velha porta de aço rangia com dificuldade até encontrar o trinco e o cadeado. Restava-me o breu e quase sempre um copo de cachaça, de plástico, pois o dono do bar sabia dos meus planos de cortar a garganta com o primeiro material adequado que aparecesse.

A prática da sinuca e o doce planejamento de uma morte rápida e quase sem dor, persistiam em mim como os últimos fios de esperança, enfim, como as últimas razões para permanecer. Ao acordar durante certa madrugada, com o barulho estridente dos pneus de um carro que passava, percebi que meu medo acerca da possibilidade de uma desgraça ainda maior abater-se sobre mim, transformara-se em realidade. Meus dois braços e minha testa uniram-se ao corpo da mesa de bilhar. Tornei-me definitivamente uma coisa-gente.

Hoje, acredito estar em meus dias finais. Permaneço firme em minha greve de fome e definho a cada dia enquanto conto a qualquer um que passa, a história de minha vida exatamente do ponto em que aqui iniciei. Pesa sobre meu espírito, mesmo com o conforto da morte iminente, a dor constante de sequer poder desfrutar dos últimos olhares mesmo que de pena, de nojo, de indiferença dos que passam. Resta-me a triste e solitária visão do vazio de minhas idéias quando fecho os olhos, e o deboche frio e inalterável do pano verde, quando reúno coragem e num ridículo gesto infantil, os abro.

Saulo Nepomuceno

domingo, 4 de outubro de 2009

O que fazer?
Não sei se morro ou compro uma bicicleta.
O que fazer?
Na garupa vai ela... E na sexta, diferente da quinta,
Carrego bebidas e batatas!
O que fazer?
Um quadro metálico, laranja amanhecer.
E agora? O que fazer?
Você não vai entender...
Você não vai perceber...
Saborear o prazer.
Regorjizar o viver.
Os Krak's e o beber?
Fuzionando o saber.
Nas folhar ei de querer.
Sentir o vento tocar-me.
Ei! Ei de saber, ei de querer.
Ei de tocar, de viver.
Ei de sentir o prazer.
Ei, ei, ei, você!
Eu quero ver o que não se pode ver.
E minha luz resplandecer.
Ei de forforecer uma idéia apagada.
E forçar uma idéia, às 2h, xibocada.
No entanto, lesionadas... Explícitas!
E então, ei de perguntar: O que fazer?


Vou ganhar dinheiro! Com minha poesia!
Com meu mote, com minha bia.
Com meu verso... Minha romaria.
Uma noite em sua companhia.



Proporcionando o próprio prazer.
A sorte do bicho no melhor.
E a verdade tramada.


É um pequeno limiar.
Sentido o oposto.
Logo a força completa.... E então se retrai.
Meu sentido oposto... Supostamente.
Complementam-se e se opõem!
Se comprimem e se retraem.
Espere! O vento é uma verdade!
E em cada gole saboreio o viver.
Obrigado! Hoje vivo por saber.
Meu coração bate mais forte.
Mesmo sem querer... Eis minha vida!
Um trago numa lata....
Um sopro sem saber...
Palavras mal ditas...
Num universo de estrela.
Num cigarro, sem querer.
Numa casca, numa ferida!
Acrescenta, sem dizer:

Você, coração! Alcança os céus!
Até o limite! Sem desfalecer!


Cleiton Fernandes e Kalil Alencar

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

fruta
no pé.
ainda verde me seduz.

[imagina
então
com
essa
cor?]